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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

NOVE ANOS DE DURAÇÃO

Quando a conheci era o mês de março, lá pelos idos dos anos 80. Conversávamos muito. Era eu chegar na faculdade, lá estava ela. Como que à minha espera. Eu um dia lhe disse isso. Ela negou, disse que era uma coincidência. Que parecia que ela estava à minha espera. Deixei para lá, senão eu não ia estudar. Mas, coincidência ou não, começamos a namorar. E no nosso namoro, nos preocupávamos em nos conhecer mutuamente. E isso nós conseguimos mas não de maneira perfeita. E nos conhecendo bem, teve fundamento o noivarmos. E, lá estávamos os noivos. Saíamos quase sempre. Senão para ir a algum lugar da cidade, a pé. Para irmos a um cinema, ou a um teatro, ou a um show de música. Às vezes íamos também a um teatro. No mais das vezes ficávamos em casa estudando. E assim fomos o tempo todo alunos aplicados. Tão aplicados que o professor de existencialismo católico nos pegou para alunos modelo. E ele um dia nos colocou na frente da turma e disse: - Sejam como esses seus colegas. Bons alunos. E ele s...

ALGUNS ANOS DEPOIS

Ele a convidou para irem ao cinema. Ela aceitou o convite. E lá se foram os dois. Compraram os ingressos e entraram. Sentaram-se na platéia e compraram pipoca. Foram consumindo a pipoca devagar, enquanto o filme não começava. O filme começou e era uma estória de gente comum como eles. Ao final, ele perguntou a ela: - Amor, você gostou? Ela respondeu, sem exitar: - Da próxima vez a gente podia ver uma fita americana. É que era um filme brasileiro. Ele insistiu: - Do que é que você não gostou? - É que o casal não fica rico quando o filme acaba. E ele: - Ora... No dia seguinte ele foi para o trabalho. Ele tinha publicado o seu primeiro livro de poesias. Ele sempre carregava alguns exemplares na pasta consigo. Nesse dia, quando chegou ao escritório, lhe disseram que uma poetisa a caminho da fama estava lá. Ele se alegrou. E não é que deu um pouco de sorte. A poetisa quase famosa se aproximou dele. Ele não esperou nada de mais acontecer. Tirou da sua pasta um exemplar do seu livro de versos...

ATÉ A ETERNIDADE

 Do que restou, não estou nem pobre, nem rico. Mas tenho um nível de vida bom. Não tenho mais idade  para trabalhar, mas me arrumei e me aposentei. Não me marginalizei, nem caí na vida. Me mantive como dantes. E aqui estou escrevendo. E escrever foi onde eu comecei ao deixar o trabalho no escritório. Não vejo os antigos colegas da empresa. Não vejo mal nisso, desde que entre eles não deixei malquerenças. E como diz o poeta, vou levando. Todos os dias, me levanto cedo. Tomo o meu café da manhã, como um ovo, vejo o telejornal. Não me amargo com as notícias. Venho para o meu estúdio, abro as estantes e escolho um livro. E me ponho a ler. É um prazer imenso para mim ler e escrever. É que a cada mês compram para mim dois livros que eu escolho. Hoje mesmo, está em cima da minha mesa de trabalho, um volumezinho meu querido que daqui a pouco vou ler.  Mas, antes vou acabar de escrever isto. Até hoje eu não ganhei um dinheiro sequer com o que escrevo. È mesmo só o prazer de escrev...

ESTRELAS E AMOR

- Vou fazer o possível... - Para que? - Para não lhe roubar uma frase. Disse ele e se foi. Saiu e me deixou um pouco desanimado. Mas, me recuperei e pensei: "É, eu tenho que escrever de todo jeito." E comecei a escrever. Sem nem pensar mais no meu colega também escritor. Minha caneta rabiscava o papel até que se firmou. Da janela do meu quarto olhei para o céu e vi as estrelas. As estrelas, estas sim, se multiplicam ao infinito. Isso, era isso. As minhas estantes... Todos os dias eu colocava nas minhas estantes livros que tinha acabado de ler. E, de que se fazem os livros? De ideias e de palavras, às vezes de ilustrações. E todas essas coisas nos fazem ter novas ideias. Então peguei um livro, daqueles que eu tinha lido primeiro. E, lá estava. Uma ideia que ninguém estava tendo. Ideia remota de tempos remotos. Era só eu remoçá-la. Então eu comecei. A ideia era a de uma mulher inalcansável. E eu tinha tido exatamente um amor impossível na minha vida. Hoje ela estava casada com ...

NÃO VOU BRIGAR COM O AMIGO

 Estávamos numa sala de aula, ouvindo o professor. Era a última aula daquela manhã. E portanto do dia. Depois de sair da sala de aulas, pegamos um ônibus ali no campus. E fomos, viajando e conversando pelo trajeto. Desembarcamos no centro da cidade e pegamos um táxi. Que nos deixou na casa dela. Eu tive ainda que pegar outro ônibus para chegar em casa. Quando chego em casa, lá estava um amigo que minha mãe fez me esperar. Recebi-o e ele me perguntou antes de se ir: - Por que você não escreve? - Digamos, um livro? - É - disse ele. Eu não respondi. E ele se foi. Para ele as coisas eram simples daquela maneira. Quem dera fossem! E nem eu mesmo sabia explicar a ele porque não eram. Quando o vi de novo, lá veio de novo: - Ó, meu amigo, na escrita qualquer coisa é válida. Eu respondi: - Quem dera fossem! E ele se mostrou foi curioso. Eu fiz ver a ele que não eram. E ele se assustou que eu temesse a concorrência. Perdi a paciência e disse: - E do que é que vou viver? - ... Eu vi que tinha...

NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM

Nem só de pão vive o homem. Pois vejam, fui convidado a trabalhar num sábado, fazendo hora extra. Sábado, que era dia que eu tirava para ler e descansar. Saí de casa cedo, me fiz transportar para o local de trabalho. Entrei no prédio e fui para minha sala. E lá veio o serviço, que executei com prestimosidade. Não só eu, mas eu e alguns colegas. Terminamos logo, porque éramos como se diz: Bons de serviço. E nos fomos embora, cedo. Eu cheguei em casa satisfeito. Claro, tinha garantido mais algum ganho. Que aumentaria o meu salário. Pois a ele seria somado. E fui noivar. Tinham algumas semanas que eu havia ficado noivo. Cheguei na casa daquela a quem eu prometera tomar a mão em casamento. E fui recebido alegremente. Ali estava eu podendo dizer, nem só de pão vive o homem. O meu pão estava garantido. E meu noivar era feito da seguinte maneira. Eu abria um livro e ela abria outro. Depois nos relatávamos o que tinhamos lido. De modo que o nosso noivar não caisse na mesmice. E ao mesmo tempo ...

LEIAM

Quando eu comecei a me entender com gente o difícil para mim era ter amigos. Meu pai, no seu rigor em nos educar achava que devíamos ficar em casa o tempo todo. Com os livros nas mãos lendo e estudando. De modo que quando estávamos em contato com a meninada de nossa idade sempre aprendíamos coisas que até ele, meu pai desconhecia. E por desconhecer quase condenava. Não chegava a tanto, mas as dúvidas que ele tinha nos atrapalhava. Meu pai não era um homem essencialmente vivido. Mas tinha vindo da pobreza para a classe média, numa escalada relâmpago. Ele mesmo estudara mais do que vivera para chegar aonde chegara. De modo que eu comecei a ler o livro da vida, um pouco tarde. E no meu primeiro emprego me disseram que eu era vivido. Estranhei, porque eu era mais lido do que vivido. Hoje sei que os que me chamavam de vivido, vividos eram eles. Mas, não me passaram prá trás porque em compensação eu tinha uma carga de leitura de ficção muito grande. E ninguém podia nem censurar nem uns nem o...

NO CAMINHO O RAPAZ E O POETA IDOSO

E, lá ia o poeta já idoso. As pedras da rua faziam com que ele olhasse onde pisava. E seus olhos eram protegidos  por um par de óculos. Ele parou um instante e  soletrou uma palavra, que gostaria de escrever no papel. Então veio até ele um rapaz, que lhe disse: - Como faz poemas o senhor? Ao que ele  respondeu: - Eu leio muito, sinto o que leio e deixo amadurecer na mente para ver se tenho algo a dizer. O rapaz, encantado, lhe disse: - Maravilhoso, e obrigado, não vou lhe tomar mais tempo. O poeta também seguiu seu caminho pensando no que acabara de acontecer. E me contou, e eu escrevo narrando neste poema. 

SER IMPERFEITO EU SOU, MAS GRATO

Desde muito cedo, a arte faz parte de minha vida. Não comigo fazendo arte. Mas vendo meu pai se dedicar a estimular a nós, os filhos, a cultivar o gosto pelas artes. Uma irmã chegou a pintar. Outro irmão chegou a fazer alguma coisinha na escultura popular. Eu sempre apreciei a música e a literatura. Não cheguei a compor canções. Mas fiz muitos rascunhos de escrita artística. Rascunhos, sim. Porque não me sobrava tempo para a dedicação. Assim que pude, contudo, comecei a escrever. Sem deixar de tocar ao violão as canções que aprendia. E que eram compostas por artistas que se tornavam famosos. E me apareceu pela frente um concurso literário. Numa hora em que eu estava disponível para tal. A namorada que me acompanhou ao palco para que eu recebesse o prêmio, me disse: - Olha, como eu estou emocionada. Já contei isso em outro lugar. Desde então tenho escrito. E agora digo: escrevi tudo isso até aqui, para dizer que sou grato. Grato aos meus pais. A meu pai, pelo encaminhamento e estímulo. ...

NÓS E OS OUTROS

Há mulheres e mulheres na face da Terra. Eu conheci algumas, embora tenha amado apenas duas. E das que conheci, uma me chamou a atenção. Ela era convencida de que tinha espírito. E, na cisma dela, eu era namorador. Desmenti, assim que pude. Mas não adiantou nada. E um dia, lá veio ela. Parecia que ela esperava a oportunidade. Má oportunidade para mim. Porque ela disse coisa inconveniente e imprópria. Decerto, antes de tudo, eu tinha tido uma namorada no interior. Antes de tudo: antes de me mudar para a capital. Na capital fui casado e depois fiquei noivo, sem trapacear. Como pode alguém casado ficar noivo? Simples, me divorciei. E algum tempo depois fiquei noivo. Donde o que eu disse: amei duas mulheres. Mas as notícias circulam. Fofocas e os ditos boca a boca. E aquela mulher que eu namorei no interior, não foi uma mulher que eu cheguei a amar. Então, pura fofoca. E lá veio aquela mulher que me chamou a atenção. Me chamou a atenção por causa da mesquinharia do espírito dela. E da faci...

ERA NA VIDA

 As nossas escolas de Filosofia, às vezes, inauguram tempos. Eu sei, porque já frequentei uma. Quase até o final do curso, fiquei sendo um quase filósofo. Mas, de vez em quando, me pego com um livro nas mãos, lendo.Ultimamente, tenho preferido livros sobre o sofrimento. Mania de sofrer, vão dizer. Nada, e nem sou discípulo do Pe. Fábio, não. Mas é ele quem tem um livro sobre o sofrimento. Eu, por estar escrevendo aqui agora e mencionando o sofrimento, digo, não existe este ou aquele ser humano que não experimente uma dose de sofrimento. Mas, veja bem, não desejo a ninguém o sofrimento. Desejo, isto sim, muita alegria e muita felicidade. Na escola de Filosofia eu fiquei noivo de uma moça. Ela saiu uma filósofa de verdade, e lá foi ela continuando a estudar até o mais alto grau. Mas, eu disse a ela, no caminho: - Não vou conseguir te acompanhar. Não ficamos inimigos, nem muito amigos, mas quando eu a encontro ela me cumprimenta. Eu respondo ao aceno dela e nós dois seguimos nosso cam...

UM NOVO AMIGO

O escritor quando começou sua vida foi um trabalhador. Suou a camisa e rezou pedindo a Deus o dom da escrita. Certo dia escreveu alguma coisa e mostrou a um colega de trabalho. E disse a ele: - Começo tarde. O colega leu o que ele escrevera e respondeu: - Mas, isto é poesia. Ele se surpreendeu: - Tanto me disseram que sou bobo, que acreditei. O colega lhe disse: - Nada, quem chama o outro de bobo, está é competindo. - Competindo? - Da pior forma. Mas, o escritor olhou para o seu escrito e recolheu-se.  - O que foi? - Nada. - No seu íntimo, o escritor se dizia: - Vou é pensar sobre esta conversa. E viu que o colega era seu amigo. Por que ele detestava competir.