NÓS E OS OUTROS
Há mulheres e mulheres na face da Terra. Eu conheci algumas, embora tenha amado apenas duas. E das que conheci, uma me chamou a atenção. Ela era convencida de que tinha espírito. E, na cisma dela, eu era namorador. Desmenti, assim que pude. Mas não adiantou nada.
E um dia, lá veio ela. Parecia que ela esperava a oportunidade. Má oportunidade para mim. Porque ela disse coisa inconveniente e imprópria. Decerto, antes de tudo, eu tinha tido uma namorada no interior. Antes de tudo: antes de me mudar para a capital. Na capital fui casado e depois fiquei noivo, sem trapacear. Como pode alguém casado ficar noivo? Simples, me divorciei. E algum tempo depois fiquei noivo. Donde o que eu disse: amei duas mulheres.
Mas as notícias circulam. Fofocas e os ditos boca a boca. E aquela mulher que eu namorei no interior, não foi uma mulher que eu cheguei a amar. Então, pura fofoca.
E lá veio aquela mulher que me chamou a atenção. Me chamou a atenção por causa da mesquinharia do espírito dela. E da facilidade dela de expor este seu ponto fraco.
É que minha mãe adoecera. E precisava de companhia para dormir.
Chamaram ela. Eu: nada contra. Falou mais alto a necessidade.E ela veio. Vindo, ao me ver, me disse: - Continua mulherengo?
Eu me defendi:
- Se engana você, nunca fui mulherengo.
Ela me olhou e foi para o quarto que nós lá em casa reservamos para ela. Eu me esqueci do comentário dela. Mas, na hora do café da tarde, ela disse:
- E seu divórcio?
Eu disse:
- Não entendo você.
Mas era fácil entendê-la. Ela era também divorciada. Tinha uma filha. E nunca saira do interior onde ela nascera. Uma provinciana, aí está. E, para piorar, não cultivava o próprio espírito. Uma mulher inculta.
Não é que a cultura mude uma pessoa. Mas a cultura ajuda a gente a refletir sobre os nossos problemas e os problemas do outro.
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