SE MÃE FOSSE VIVA ELA DIRIA: FALANDO MUITO
Viajando de táxi, o motorista que sabia que eu era escritor, ao me ouvir dizer:
- Eu comecei tarde.
Me diz:
- Isso é poesia.
E seguimos viagem, e fomos e voltamos. Com ele eu já estava habituado. Veio a adoecer e falecer. O que eu senti muito, de verdade. Pois a esposa dele, agora viúva dele, trabalha aqui em casa. E esta fala dele:
- Isso é poesia.
Me ficou na mente. Como se eu me dissesse quem dera todas as pessoas me dissessem:
- Isso que você disse é poesia.
Seria o suprassumo dos elogios. Como foi para mim o suprassumo dos elogios o meu psiquiatra me dizer:
- Tem escrito muito?
Estas coisas me soam muito de bom gosto porque vêm de pessoas que tratam comigo de assuntos meus. E demonstram, ao menos para mim, um interesse especial pela minha pessoa. E digo pessoa, porque minha mãe que foi quem me criou me disse sempre:
- Você quer ser escritor, um escritor é uma pessoa como outra qualquer.
Eu sorria. Claro, eu era um trabalhador, e não gostava do disco do John Lennon que se intitulava HERO CLASS HERO. Aquilo era, o título que o líder dos Beatles dera ao disco, uma tolice. Eu li muita coisa que se escreveu sobre Lennon, mas não me consta que ele tenha trabalhado no trabalho formal. E hoje em dia já se faz distinção entre trabalho artístico e trabalho formal. Muito mais digno um trabalhador formal se dar ao trabalho artístico nas horas de folga. E para dar uma satisfação: eu que não esperava as benesses de uma pensão aqui estou agora como escritor. E já trabalhei muito para ganhar a vida. E uma justificativa: minha doença é de origem genética. Eu sou esquizofrênico. Agora se sou bom escritor eu não sei. Frequentei boas escolas e fiz parte do curso superior. Quer dizer, me esforcei. Minha namorada lutou muito com as palavras ao me dizer:
- Você não é um monstro, o que eu amo é você como você é.
E dizem que Ezra Pound não funciona mais.
E que Deus me abençoe, E que Deus nos abençoe.
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