OS PEQUENOS

 No trabalho fiz carreira de escriturário, mais ou menos na época em que ingressei na Faculdade. Fui estudando Filosofia, e tinha para mim que eu não podia me expor. E não podia mesmo. Na empresa em que eu trabalhava, que era serviço público, as regras eram muito rigorosas. Mas, enfim, não consegui me segurar e mandei um ensaio para um concurso literário. Fui premiado. Isso me causou uma série de problemas. Os chefes quiseram saber se eu era um intelectual. E eu dei um jeito de explicar que não.

Aquietei-me, mas o serviço que eu desempenhava aumentou. Para piorar a secretária do chefe passou a repetir a lenga-lenga de quem não está satisfeito pode ir embora. Era doloroso. Mas passou a ser assim o meu dia a dia, o meu e o dos meus colegas que trabalhavam comigo. Começaram as brincadeiras e dentre elas surgiu uma capaz de me fazer rir.

Um colega sabedor das palavras de um professor, que pensava nos estimular assim, passou a repetir estas palavras:

- Que nós éramos analfabetos funcionais.

Esta expressão se explica. Analfabetos funcionais são aqueles estudantes que estudavam no curso por estudar. Claro que eu tinha que rir. Ora, se aqui no interior eu ouvi de alguém:

- Filosofia não serve para nada.

O que dizer de gente que tem certeza que Filosofia é inútil. Só mesmo quem gosta e estuda, sabe o valor que ela tem. Mas gente da direção daquela empresa pública me disse:

- Acabou.

E eu nem precisei perguntar o que acabou. Acabou a mínima necessidade de Filosofia. E eu tinha mesmo um ar patético. O que fazer? E minha mãe, um dia vendo TV me disse:

- Filho, nós somos pequenos.

E somos mesmo.

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